segunda-feira, 3 de abril de 2017

Gosto de coisas miúdas. Não, não me refiro a nada que aconteça fora de nós, ou fora do convívio dos nossos corpos. Gosto mesmo é quando o teu olhar acompanha o meu, quase que de mãos dadas, antes do ato do beijo. Falo daquelas pequenas partículas de tempo, que são pouco a pouco vencidas pelo força da vontade; daqueles segundos que ninguém mais observa, mas que parecem durar uma infinitude. Não é possível contabilizá-los, a não ser que saibamos contar as batidas das asas de um beija-flor. Não sabemos. E, os toques nos encantam incisivamente. O passeio dos dedos, das palmas das mãos pelos rostos um do outro, que causam arrepios aveludados. Cada poro da minha pele encontra na tua pele algo substancial, algo intimamente necessário para nossa conexão. Nossas cores diferentes, nossos desejos tão iguais. Ali, unidos, como um retrato em branco e preto. Tudo que se escuta são suspiros. Sons que parecem terem sido meticulosamente ensaiados, um no ouvido do outro. São as respostas aos estímulos da carne, quando os olhos se fecham, quando nos abraçamos; não nos sobrando nada mais do que essas coisas miúdas, que são incapazes de existir, senão, por dentro e por fora de nós. Assim como os sorrisos no canto das bocas, como as têmporas rubras de vergonha e o entrelaçado dos braços, nos pescoços e nas cinturas. Os semblantes também mudam, as sobrancelhas se franzem, toda vez que os olhares se cruzam, se aproximam. Quanto tempo dura isso tudo? Não sabemos ao certo, porque nossos relógios giram em sentido anti-horário. O êxtase das coisas miúdas ultrapassa qualquer métrica. É o aqui. O agora. E se acabou!

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